‘Em defesa dos 23 e do direito de lutar!’: Debate lota salão da Uerj

(Abaixo a matéria do Jornal A Nova Democracia sobre o debate da Campanha em Defesa dos 23, publicada em 28/9/18, https://www.anovademocracia.com.br/noticias/9616-em-defesa-dos-23-e-do-direito-de-lutar-debate-lota-salao-da-uerj)

‘Em defesa dos 23 e do direito de lutar!’: Debate lota salão da Uerj

O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) e a Associação de Docentes da Universidade do Estado do Rio Janeiro (Asduerj) promoveram, na tarde do dia 27 de outubro, um entusiasmante debate em solidariedade contra a perseguição política dos 23 ativistas e a criminalização da luta popular, com a presença do filósofo e professor da USP, Vladimir Safatle.

Compuseram a mesa de debates também a militante da luta camponesa, Clara, representando a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e a professora e diretora da Asduerj, Deborah Fontenelle. Dentre os 23 ativistas perseguidos políticos, estiveram presentes a professora e diretora do Sindicato Estadual dos Professores do Rio de Janeiro (UERJ), Rebeca Martins e o militante popular e escritor, Igor Mendes.

O evento lotou o salão do 9º andar da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e discutiu, para além do processo político movido contra os ativistas que participaram das grandes manifestações de 2013 e 2014, o rechaço à farsa eleitoral que se avizinha e as perspectivas para a luta popular, dada a situação de profunda crise econômica, política e institucional do velho Estado.

O vibrante debate foi marcado por palavras de ordem e intervenções que destacaram o otimismo frente à situação política nacional, afirmando uma vez mais que o agravamento da crise abre ótimas perspectivas para a luta popular e para uma verdadeira transformação no nosso país, que ponha abaixo todo este sistema de opressão e exploração do povo.

Falando em nome da Asduerj, Deborah, que também é professora do Colégio de Aplicação da Uerj (CAP-UERJ), manifestou solidariedade a luta contra a criminalização dos 23 e expôs a situação de precarização da Uerj em meio aos continuados ataques contra da educação:
— Temos vivido um período de muita luta, pela resistência, pela sobrevivência da universidade e para que esta mantenha seu caráter público e para que ela se torne ainda mais popular. Temos dificuldades de conseguir bolsa de permanência, além de outras medidas que garantam a permanência dos alunos e alunas na universidade.

A representante da LCP falou sobre as grandes manifestações das Jornadas de Junho e a criminalização da luta popular, demonstrando que as lutas camponesas e populares não começaram no ano de 2013, mas são continuadas e que jamais cessaram:

— Houve uma comoção nacional durante as jornadas de Junho de 2013 e 2014 que dizia: ‘O Brasil acordou’, ‘O gigante estava adormecido e acordou’. Mas na verdade o povo sempre lutou e nunca deixou de lutar. No campo, o povo sempre lutou, enfrentou o latifúndio, o velho Estado, o judiciário, todas as formas de criminalização e perseguição.

Sobre os crimes promovidos pelo latifúndio em conluio com o velho Estado, denunciou:

— São inúmeros os companheiros assassinados na luta pela terra, pelo direito de ter um pedaço de terra para viger com dignidade. São inúmeros os casos de dirigentes camponeses, de lutadores das massas que são assassinados pelo latifúndio, apoiado, sustentado e defendido por aparatos militares desse Estado, pela polícia, os quais são defendidos pelo judiciário. Basta acompanharmos a discrepância entre o número de pessoas que foram assassinadas na luta pela terra no nosso país e o número de pessoas que são presas, de mandantes que são indiciados.

Dentre os crimes do latifúndio, Clara destacou o bárbaro assassinato de Cleomar Rodrigues, dirigente camponês da LCP do Norte de Minas e Sul da Bahia, que completa 4 anos no próximo dia 22 em outubro.
— No ano de 2014 o coordenador político da LCP foi assassinado na cidade de Pedras de Maria da Cruz. Foram presos dois acusados do assassinato do companheiro e um ano depois eles conseguiram habeas corpus e estão andando em liberdade como se nada tivesse acontecido.

O professor Vladimir Safatle reforçou que para além do apoio aos 23 ativistas devemos ir mais além, avançar e apontar o caminho para a continuidade das lutas que prosseguirão:
— Não estamos aqui simplesmente para prestar solidariedade a companheiros que estão perseguidos de forma brutal e completamente injusta por terem participado das manifestações em 2013. Estamos aqui por isso e por muito mais. Estamos aqui para dizer que chegamos a um ponto de ruptura. E que este é o momento de fazer isso de forma cada vez mais clara. Uma ruptura em relação a todo um sistema de promessas que de certa forma colonizaram nossas atuações e capacidade de organização e mobilização, cujos resultados sabemos o que produziram.

Igor Mendes mostrou como o processo dos 23 se enquadra dentro de uma situação de reacionarização do velho Estado que tem como intuito, particularmente, condenar os levantamentos de Junho de 2013. E concluiu apontando as ótimas perspectivas que se abrem:

— As condições que produziram os levantamentos de junho de 2013 não só se mantiveram, mas se agravaram tremendamente. E também o movimento popular independente e sem amarras da velha burocracia que convergia tudo para as urnas também cresceu. Não só a extrema direita cresceu. Não podemos cair no erro de ver as coisas por um ponto de vista pessimista.

— Nós só poderemos derrotar o fascismo e a extrema direita com mais luta. Não é abaixando a bandeira vermelha da luta de classes e levantando a bandeira branca da paz, mas é levantando mais alto a bandeira vermelha da luta de classes e arrancando pela raiz aquilo que gera essa reação odiosa que nunca saiu do poder no Brasil, mas que vai ser retirada na marra. Por quem? Por nós, pelo povo!

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